Uma perspectiva multidisciplinar sobre o assunto. Texto: Luciana Colucço de P. Eduardo.
Uma doença nova e desconhecida como o Covide -19, que desencadeia uma pandemia exigindo quarentena, com um cenário mundial avassalador onde governantes promovem medidas experimentais para lidar com situações sem precedentes, atinge cada família de forma particular e única, conforme sua estória e momento.
À medida que a pandemia avança, a sociedade experimenta incertezas e inseguranças que também fazem avançar uma fragilidade psíquica, assombrada pelo medo de perder pessoas queridas, de perder a própria vida ou situações conquistadas.
Nesse contexto pais separados, com guarda compartilhada ou com uma rotina de convivência estabelecida judicialmente, têm sido impelidos a avaliar os fatos contextuais de ambas as partes e reorganizar esse acordo com o propósito de garantir a segurança física e psíquica de cada membro da família.
Aqui o bom senso, o prático e o racional devem ganhar espaço na busca de uma melhor opção, levando em conta quem oferece o menor risco de contaminação, a disponibilidade de tempo, a qualidade do vinculo afetivo, a presença de idoso e outros possíveis dados significativos.
Tarefa nem sempre fácil de realizar uma vez que em muitos casos, depois de desfeito o casal conjugal, a presença de sentimentos como fracasso, rejeição, perda, arrependimento, raiva, medo e outros, dificulta o entendimento entre o casal parental.
Pais separados que conseguem superar suas diferenças, dialogar sobre os filhos e com os filhos legitimando seus sentimentos, estabelecem acertos com facilidade, encontrando soluções criativas de convivência nesse momento tão difícil e imprevisível. Criam um ambiente familiar de segurança e tranquilidade amorosa. Devemos lembrar que a criança sente o que vive e que seu bem estar depende do equilíbrio dos adultos que cuidam dela. Vemos pais que para facilitar a rotina e preservar a convivência retornam ao mesmo teto. Pais que abrem mão da convivência presencial reconhecendo que o distanciamento é a melhor alternativa para proteger o filho, programando encontros virtuais. Outros que com mutua confiança alternam as semanas ou quinzenas.
Por outro lado, pais separados, perturbados, que lutam com seus próprios sentimentos, não disponíveis, com arranjos de cuidados inconsistentes, que se debatem em disputas pelo poder sobre os filhos, facilmente constroem um ambiente instável e confuso emocionalmente. Neste contexto relacional conturbado observamos na criança e no adolescente, um aumento de tensão, ansiedade, uma insegurança pelo que está por vir. Em muitos casos é nesse contexto que se desenvolve uma alienação parental.
Caracteriza-se uma alienação parental quando um dos genitores interfere na formação psicológica da criança ou do adolescente de forma a distorcer a construção da figura do outro genitor, denegrindo sua imagem e comprometendo o desenvolvimento do vinculo deste com o filho.
Essa manipulação psicológica e emocional aparece tanto de forma consciente como inconsciente por parte de quem a faz. Movida às vezes por sentimentos desconhecidos, atormenta a psique de ambas as partes, genitor e filho. Pode ser sutil, mas sorrateiramente confunde e desconfirma a percepção da criança ou adolescente, como também seus sentimentos em relação ao genitor alienado. Todos carecem de ajuda para encontrar um caminho mais equilibrado.
A imposição do distanciamento social em função do Covide-19 pode ser usada como uma falsa justificativa para intensificar a alienação parental. Não devemos desprezar a importância da convivência dos filhos tanto com o pai como com a mãe. Provavelmente muitos destes estarão em disputa, procurando por seus advogados, que neste momento ajudarão muito se estiverem no papel de mediadores.
O momento atual, contextualizado por uma pandemia, intensifica e aflora emoções que habitam o interior de cada um, e é com essa verdade que cada um terá que lidar.
Hoje o tempo não é de disputa, o bom senso deve prevalecer a todo custo. Ninguém ganha ou perde, todos devem se ajudar. Esse é o grande desafio.